Bem Estar em Animais Silvestres
A manutenção de animais selvagens
em zoológicos iniciou há muito tempo, ainda nas civilizações antigas. Os
egípcios capturavam pequenos gatos selvagens, babuínos e leões durante suas
viagens e batalhas e os mantinham nos seus templos simbolizando poder e força.
O primeiro zoológico do qual se
tem registro foi construído em 1752 em Viena, denominado Imperial Menagerie. No
século XVIII em Paris foi fundado o chamado “Jardin des Plants”. Posteriormente
, em 1826, foi fundado o Zoológico da sociedade de Londres com objetivo
cientifico para estudo da zoologia. Nestes zoológicos, os recintos e as jaulas
eram construídos para proporcionar aos visitantes o melhor ângulo de visão, e
não para dar boas condições de vida aos animais, pois não havia uma preocupação
com o bem-estar animal.
Só em 1900 foi fundado, na
Alemanha, o Stellingen Zôo onde os animais tinham recintos mais apropriados,
simulando um pouco seu ambiente natural e com espaços maiores, demonstrando uma
preocupação com a minimização do desconforto dos animais. A partir deste
zoológico, outros países da Europa e os Estados Unidos da América passaram a
tê-lo como modelo, e o bem-estar animal
passou a ser levado em consideração.
Figura 1: Stellingen Zôo - Alemanha
No século XX houve uma mudança no
enfoque da utilização dos zoológicos, que deixaram de ser meras coleções,
passando a desenvolver atividades e funções voltadas para a conservação da
fauna regional e global. Muitos estudos
são desenvolvidos nos zoológicos modernos.
Há muito tempo, bem-estar é um
termo de uso comum presente nas sociedades humanas. Segundo Molento,2007 a ligação com os animais encontra-se
onipresente na história da humanidade e a ideia de que os animais sentem, e que
seu sofrimento deve ser evitado, é bastante aceita e fundamentada. Mais
recentemente, com os avanços da pesquisa em etologia animal na década de 1970,
as preocupações com a proteção do bem-estar animal, por vezes rotuladas
anteriormente como “leigas”, começam a adentrar de maneira importante o
ambiente acadêmico.
O estudo científico do
comportamento animal pavimenta as bases para o reconhecimento da complexidade
da vida animal individual. Adicionalmente, ocorre um detalhamento crescente das
expressões animais relacionadas à presença de consciência e sentimentos, de
maneira marcante nos animais vertebrados.
O termo “senciente” significa, de forma simples, “que
sente; que tem sensações”, embora alguns dicionários, como o Aurélio, o
associem à razão. A discussão sobre a intensidade de sofrimento das inúmeras
espécies animais e a tentativa em classificar o grau de sofrimento em função da
classificação no reino animal é importante, embora não tão importante quanto a
responsabilidade do ser humano em relação às outras espécies animais, independentemente
de seu grau de senciência.
Toda espécie animal apresenta um comportamento normal
padrão. A presença de comportamentos anormais pode ser considerada um indicador
de que o bem estar desses seres vivos não está sendo alcançando. Sabe-se que o
cativeiro é um fator limitante, e leva muitos animais a terem um comportamento
diferenciado, até neurótico, sendo considerado um comportamento anormal, já que
os locais onde permanecem confinados não proporcionam a eles as mesmas
condições que seu habitat natural, interferindo no seu bem-estar.
Os animas possuem uma habilidade chamada de comportamento
de coping, ou seja, estratégias para se adaptar a situações adversas. Esse comportamento
pode ser considerado um mecanismo adaptativo, sendo uma resposta para reduzir
os efeitos fisiológicos do stress. Isso nos ajuda a entender porque alguns
espécimes desenvolvem doenças de cunho psicológico e outros não.
Para minimizarmos os efeitos prejudiciais e
proporcionarmos esse bem-estar aos animais mantidos cativos em zoológicos, um
importante aliado é o enriquecimento ambiental, que objetiva tornar estes
locais mais favoráveis a vida desses animais.
O
enriquecimento ambiental pode ser:
1)
Físico: consiste em introduzir aparatos nos
recintos (vegetações, diferentes substratos, estruturas para se pendurar ou se
balançar, como cordas, troncos ou mangueiras de bombeiro, entre outros) que os
deixem semelhantes ao habitat de cada uma das espécies.
Figura
3: Enriquecimento físico em recinto de bugios
2)
Sensorial: consiste em estimular os cinco
sentidos dos animais, introduzindo, por exemplo, vocalizações, ervas
aromáticas, urina e fezes de outros animais.
Figura 4: Enriquecimento sensorial com lobo-guará
3)
Cognitivo: consiste em colocar dispositivos
mecânicos, como quebra-cabeça,para os animais manipularem.
Figura 5: Enriquecimento cognitivo com arara azul
4)
Social: Consiste na interação intra-específica
ou inter-específica que pode ser criada dentro de um recinto. Os animais têm a
oportunidade de interagir com outras espécies que naturalmente conviveriam na
natureza ou com indivíduos da mesma espécie.
Figura 6: Enriquecimento social e alimentar com
araras
5)
Alimentar: tem um papel fundamental para
melhorar a qualidade de vida de animais em cativeiro, pois na natureza eles
procuram e caçam seus alimentos, variando de acordo com cada espécie. Seria
oferecer ocasionalmente, alimentos que consomem em seu habitat natural e não
fazem parte do cardápio em cativeiro, e variar a maneira, freqüência e horário
como estes são oferecidos
Figura 7: Enriquecimento alimentar com urso
Na
tabela 1 podemos verificar os valores estimados e reais do consumo de ração por
sagui-de tufo-preto com e sem o enriquecimento ambiental. É notável a diferença
benéfica para o grupo de animais do tratamento com enriquecimento ambiental.
O enriquecimento ambiental
é uma alternativa viável para melhorar o bem estar dos animais em cativeiro
contribuindo para a redução de comportamentos considerados anormais e
melhorando a qualidade de vida desses animais.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
SAAD, C. E. P.; SAAD,
F. M.O.; FRANCA, J. Bem-estar em animais de zoológicos. R.
Bras. Zootec., v.40,
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SILVA, J. C. R.; SIQUEIRA, D. B.;
MARVULO, M. F. V. Ética e bem-estar em animais
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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 11, suplemento 1,
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abril, 2008.